As Borboletas

Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande.

As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as dela.

Temos que nos bastar... nos bastar sempre e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.

As pessoas não se precisam, elas se completam... não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida.

Com o tempo, você vai percebendo que para ser feliz com a outra pessoa, você precisa em primeiro lugar, NÃO PRECISAR DELA. Percebe também que aquela pessoa que você ama (ou acha que ama) e que não quer nada com você, definitivamente, não é o homem ou a mulher de sua vida.

Você aprende a gostar de você, a cuidar de você, e principalmente a gostar de quem gosta de você.

O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você.

No final das contas...

VOCÊ VAI ACHAR NÃO QUEM ESTAVA PROCURANDO
MAS QUEM ESTAVA PROCURANDO VOCÊ!




sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Recomeços necessários



A lei dos renascimentos rege a vida universal.
Com alguma atenção poderíamos ler em toda a natureza, como em um livro, o mistério da morte e da ressurreição.
As estações sucedem-se no seu ritmo imponente.
O inverno é o sono das coisas.
A primavera é o acordar. O dia alterna com a noite.
Ao descanso segue-se a atividade.
O Espírito deixa o corpo físico e adentra as esferas espirituais, para retornar e continuar com forças novas a tarefa interrompida.
As transformações da planta e do animal não são menos significativas.
A planta morre para renascer, cada vez que a seiva volta. Murcha para reflorir.
A larva, a crisálida e a borboleta são outros tantos exemplos que reproduzem, com mais ou menos fidelidade, as fases alternadas da vida imortal.
Como seria possível que só o homem ficasse fora do alcance desta Lei?
Se tudo está ligado por laços numerosos e fortes, como admitir que nossa vida seja como um ponto atirado, sem ligação, para os turbilhões do tempo e do espaço?
Nada antes, nada depois!? Não.
O homem, como todas as coisas, está sujeito à Lei eterna. A natureza não nos dá a morte senão para nos dar a vida.
A sucessão das existências se apresenta para todos nós como uma obra de capitalização e aperfeiçoamento.
Depois de cada existência terrestre a alma ceifa e recolhe as experiências e os frutos dela decorridos.
Todos os seus progressos ficam registrados em sua essência.
Assim, o ser, em todas as fases de sua ascensão, encontra-se tal qual a si mesmo se fez.
Nenhuma aspiração nobre é estéril. Nenhum sacrifício é vão. A alma deve conquistar, um por um, todos os elementos, todos os atributos de sua grandeza.
Para isso precisa de obstáculos que possam lhe oferecer lições, provocando seus esforços e formando suas experiências.
É indispensável a luta para tornar possível o triunfo e fazer surgir o herói. Só se conhecem e se apreciam os bens que se adquirem com os próprios esforços.
Para apreciar a claridade dos dias é necessário ter atravessado a escuridão das noites. A dor é a condição da alegria e o preço da virtude.
Através de sucessivas existências, o ser vai construindo sua individualidade, escalando os caminhos da felicidade. E assim, nessas contínuas peregrinações, segue à procura das perfeições Divinas.
Somente quando alcançar as regiões superiores, estará livre da Lei dos renascimentos porque, então, o corpo físico não será mais para ele uma necessidade.
*   *   *
A doutrina da reencarnação explica a desigualdade das condições, a variedade das aptidões e dos caracteres.
Dissipa os mistérios perturbadores e as contradições da vida e resolve o problema do mal.
Aproxima os homens, dizendo que entre eles não há deserdados nem favorecidos.
Esclarece que cada um é filho de suas próprias obras, senhor do seu próprio destino.
A justiça deixa de ser transferida para um domínio distante e desconhecido.
E assim, não há como ignorar que a vontade ativa de cada ser gera efeitos, imediatos ou não, bons ou maus, que recaem sobre o seu responsável, formando a trama de seu próprio destino.

Rápida passagem




Conta-se que no século passado, um turista americano foi à cidade do Cairo, no Egito. Seu objetivo era visitar um famoso rabino. O turista ficou surpreso ao ver que o rabino morava num quarto simples, cheio de livros. As únicas peças de mobília eram uma mesa e um banco.
Onde estão os seus móveis? Perguntou o turista.
E o rabino, bem depressa, perguntou também:
Onde estão os seus?
Os meus? Disse o turista. Mas eu estou aqui de passagem.
Eu também. Falou o rabino.
A vida na Terra é somente uma passagem. No entanto, vivemos como se fôssemos ficar aqui eternamente.
A grande preocupação é amontoar coisas. São casas na cidade, na praia, no campo, no exterior.
Vários carros de cores, marcas e potências diferentes, para ocasiões diversas. Inúmeras roupas, dezenas de calçados, prédios, terrenos, jóias. Quanto mais se possui, mais se deseja.
Justo que o homem anseie pela casa confortável, vestimenta adequada à estação, boa alimentação.
Tudo isto faz parte da vida material. São coisas necessárias para nos manter e podermos gozar de relativa segurança.
Entretanto, por que ajuntar tantas coisas, utilizando um tempo enorme em trabalho constante, sem nos preocuparmos com a vida do espírito?
De um modo geral, afirmamos que não temos tempo para orar, para ler e estudar a respeito do mundo espiritual, do porque nascemos e vivemos.
Nossa preocupação é exclusivamente no campo profissional, para ter sucesso, ganhar sempre mais.
Esta maneira de pensar é tão forte em nós que, ao auxiliarmos nossos filhos a se decidirem por esta ou aquela profissão, costumeiramente sugerimos que eles escolham a mais rendosa. Aquela profissão que, num tempo muito curto, trará excelente retorno.
Preocupamo-nos com as notas da escola, com seu desempenho nos esportes, nas artes.
Tudo muito correto! Mas, e quanto ao espírito? Quando teremos tempo para lhes falar de Deus, da alma, de Jesus, da lei de amor?
Quando nós mesmos teremos tempo para freqüentar um templo religioso? Para ajuntar tesouros espirituais, trabalhando as virtudes em nós?
Lembremos que a vida no corpo é uma passagem apenas.
Vivamos bem mas, de forma sábia, também cultivemos as coisas do espírito, preparando a nossa vida para além da tumba.
Pensamento 
A vida espiritual é a verdadeira vida. A vida terrena é breve e tem por objetivo o progresso do espírito.
Estamos na Terra exatamente como alguém que chegasse de um lugar distante, parasse em uma determinada estação, ali permanecesse por um tempo e, depois, tomasse a condução de volta ao ponto de origem.
Assim são as nossas idas e vindas da pátria espiritual para a terra e daqui para lá.
Por esse motivo recomendou Jesus na parábola do homem que encheu os seus celeiros e se preparou para aproveitar tudo, ao máximo: louco. Ainda esta noite a morte virá te buscar a alma.

Razão ou coração?


O Espiritismo ensina que todos os Espíritos são criados por Deus em estado de ignorância e simplicidade.
Eles possuem o embrião de todas as virtudes. Mas necessitam das experiências da vida para desenvolver o seu infinito potencial.
No universo não há privilégios ou injustiças. Cada qual ocupa uma posição adequada ao seu estágio evolutivo e as suas necessidades de aprendizado.
Na jornada para a plenitude, as asas do conhecimento e da moralidade gradualmente despontam em toda criatura.
Mesmo quem hoje parece um pervertido adquirirá a máxima pureza. Tudo é uma questão de tempo e de esforço. A criatura que parece privilegiada pela vida, na verdade trabalhou mais o seu interior.
Talvez seja mais velha do que as demais, por ter sido criada antes. Mas certamente já trabalhou muito. Afinal, o mero passar do tempo pouco ensina. É o que ocorre em uma escola. De nada adianta o aluno ser mais velho do que os demais de sua classe. Se não aprende a lição, não é promovido para a etapa seguinte.
A angelitude é um estado de consciência de quem muito conhece e muito ama.
Freqüentemente se ouve falar de embates entre a razão e o sentimento
Em face de determinada situação, a criatura não sabe qual rumo tomar.
Seu coração anseia por determinada solução, mas a razão aponta para outra saída.
Esse gênero de dúvida revela a pouca compreensão que ainda temos da finalidade da vida.
Ninguém nasce a passeio ou apenas para realizar fantasias.
Todos trazemos uma programação a cumprir, que invariavelmente visa a nossa evolução, o nosso aperfeiçoamento.
O objetivo de nossa vida sempre será o desabrochar do anjo que em nós reside.
Esse objetivo identifica-se com a aquisição da sabedoria e do amor. Ocorre que amor não é sinônimo de desejo. Essa sublime energia rege o universo. Ela desperta em nós o ideal de auxiliar o próximo a ser feliz.
Mas a razão nos diz que a felicidade depende do dever bem cumprido. Ninguém pode ser genuinamente feliz com a consciência pesada. Assim, o coração e a razão nunca entram em contradição, para quem compreende o seu real papel em face da vida.
Nossos amores não nos pertencem. Eles são filhos do divino pai, que os criou para uma meta transcendente e maravilhosa. Nosso papel é o de ajudá-los a atingir essa meta tão sublime. Amar não implica ser conivente ou livrar o próximo do trabalho que lhe compete.
Amar não significa manter o ser amado ao nosso lado, quando ele deseja viver outras experiências. Amar é auxiliar a ser feliz, a ser melhor, a crescer para Deus.
A razão lúcida ilumina e dirige o coração. O coração que aprendeu a amar suaviza e dulcifica o raciocínio.
A sabedoria e o amor são duas energias que se complementam, na perfeita harmonia da vida.
Nem determinações duras e implacáveis, nem pieguice e conivência com equívocos.
Quem ama e sabe, educa e ampara.
Acalenta, mas liberta

A face do Senhor





Narra antiga lenda que, após a descida de Jesus da cruz, Nicodemos, muito comovido, guardou o lenho e pôs-se a esculpir nele o amado amigo, conforme o vira pela última vez.
Trabalhou por largo período com esforço e carinho, realizando uma escultura excepcional.
Deixara, porém, o rosto para fazê-lo em último lugar.
No entanto, por mais que tentasse não conseguia transmitir à madeira rústica a incomparável expressão de sofrimento e amor com que o Mestre exalara o último suspiro.
Já desanimado e supondo-se incapaz de fazê-lo, adormeceu, numa oportunidade, exausto e triste, ante a magnífica obra inacabada.
Sonhou, então, que um anjo se acercou da escultura e, rapidamente realizou o que ele tanto desejara fazer sem o conseguir.
No auge do júbilo, Nicodemos despertou e, antes de lamentar haver sido apenas um sonho, se deparou com a face do Cristo superiormente esculpida, completando com perfeição o conjunto harmonioso.
*   *   *
Na cidade de Lucca, na Itália, encontra-se a Santa face, uma obra escultural de autor desconhecido, que a fantasia popular e religiosa vestiu de lenda...
Deixando à margem o exagero, descobrimos uma simbologia oportuna que merece reflexão.
Na sociedade moderna, em que a justiça, o amor e a liberdade são sacrificados, permanecem os instrumentos de flagelação que o cristão, à semelhança de Nicodemos, deve transformar na face da paz e do perdão, em favor de uma vida digna de ser preservada.
Quando, no entanto, os esforços parecerem inúteis e vãos, já à beira do desalento, os Espíritos da luz vêm auxiliar a completar a obra que refletirá a presença do Cristo sustentando a criatura desesperada e infeliz.
*   *   *
Cada um vê a face do Senhor, no mundo, conforme a sua necessidade.
Madalena a viu de uma maneira diversa de Pilatos.
Pedro a conhecia de forma diferente de Judas.
João percebia a face do Mestre de forma diversa de Tomé, e assim por diante.
Ainda hoje é assim.
Deixe-se, pois, esculpir pelos anjos, de modo a oferecer a todos, a confortadora face do Senhor impressa em sua conduta.

Retribuição



As relações entre patrões e empregados nem sempre são amistosas.
De um lado, os empregados reclamam que os patrões exigem muito e não pagam salários compensadores.
De outro, os patrões falam de empregados que se mostram desonestos, que depois de trabalharem muitos anos, alimentando-se dos salários pagos por eles, de forma correta, fazem reclamações trabalhistas injustas.
Uns e outros reclamam de comportamentos indevidos, de horas extras não pagas, de trabalhos mal feitos, de irresponsabilidades, etc.
Por isso mesmo, o caso de Bob Thompson é muito interessante de ser conhecido.
Durante quarenta anos, Bob Thompson trabalhou de abril a dezembro, antes da geada, fazendo estradas junto com sua equipe.
Tudo iniciou com a quantia de três mil e quinhentos dólares que a esposa de Thompson havia conseguido economizar trabalhando como professora substituta e que lhe permitiram abrir a empresa.
Durante os primeiros cinco anos, tudo foi muito difícil. Ele não retirava nem seu salário. Depois, os negócios prosperaram e ele ficou muito rico. Graças, naturalmente, ao seu grande esforço e de sua equipe.
Um dia, o Sr. Thompson retribuiu o favor. Ele vendeu sua empresa de pavimentação e deu a seus quinhentos e cinquenta empregados, entre atuais e aposentados, nada menos do que a quantia de cento e vinte e oito milhões de dólares.
Até mesmo as viúvas de seus ex-empregados receberam cheques. Noventa deles se tornaram ricos num instante.
Quando os cheques foram entregues, Thompson fez questão de não estar por perto. Eu não queria estar lá, disse, as coisas se tornam muito emocionais.
Perguntado a respeito do porquê de tal atitude, respondeu: Você se dá conta de que as pessoas ao seu redor sofreram junto com você. E eu queria retribuir. Tenho certeza que era a coisa correta a ser feita.
Um de seus empregados, por trinta e três anos, disse: Ele não pedia a ninguém para fazer alguma coisa que ele mesmo pudesse fazer.
Mesmo que estivesse de terno e precisasse ajudar, ele estava sempre pronto.
Patrões e empregados dessa qualidade dão exemplo de que se nos comportarmos como cristãos, respeitando-nos, e cada qual reconhecendo o valor do outro, o relacionamento entre ambos, com certeza, será bem melhor.
Sempre oportuno lembrar que, como seres humanos, dependemos uns dos outros. E que Deus, em Sua misericórdia, nos permite ora ocuparmos uma posição, ora outra.
Como superiores somos responsáveis pelos nossos subalternos.
Na condição de subalternos, temos a obrigação de cumprir bem o nosso dever, fazendo jus ao salário que recebemos.
*   *   *
O gerente é aquela pessoa que se responsabiliza pelo trabalho da equipe.
Quem administra precisa da colaboração de quem obedece. Aquele que obedece necessita prestar atenção e respeito a quem administra. Esse, por sua vez, precisa usar de bondade e compreensão para quem obedece, a fim de que as engrenagens do serviço funcionem com segurança.
Quem não respeita a tarefa que lhe honra a vida, desrespeita a si mesmo.
Servir além do próprio dever não é bajular e sim conquistar apoio e experiência, simpatia e cooperação.

Valores reais




O nome do casal Curie, Pierre e Marie, estará para sempre associado à radioatividade. Desde o momento em que Marie Curie conseguiu isolar um precioso grama de radium, a vida de ambos se modificou.
Em 1903, foram convidados para uma conferência sobre o radium, que se realizaria em famosa instituição de Londres.
O casal foi. Pela primeira vez uma mulher era admitida às sessões daquela instituição londrina.
Eles compareceram a muitas recepções, pois todos desejavam conhecer os pais do radium.
Pierre foi às brilhantes recepções vestido de preto. A mesma roupa que utilizava no curso que ministrava em Paris. Marie era olhada como um animal muito raro. Ela era um fenômeno, uma mulher física.
Ela usava vestido escuro com leve decote e mãos sem luvas. As mãos que se apresentavam roídas pelos ácidos das experiências.
Contudo, as damas que compareciam aos banquetes usavam nos dedos e no colo as mais preciosas pedras do Império Britânico.
Marie sentia um verdadeiro prazer em contemplar essas joias. Observou também que o marido olhava as joias de forma fixa, passeando o olhar por todas aquelas belas mulheres, carregadas de preciosidades.
À noite, quando se recolheram ao quarto para o repouso, ela comentou:
Nunca imaginei que existissem joias assim. Que coisa maravilhosa!
O marido sorriu e falou:
Durante o jantar, fiquei observando os anéis, os colares e os brincos. Enquanto todos conversavam comecei a fazer a conta de quantos laboratórios seria possível construir com as pedras que cada uma dessas damas carregava. E para nós seria suficiente um laboratório.
Quando chegou o fim do jantar, acredite, a minha conta já tinha alcançado um número astronômico.
*   *   *
Assim são as grandes almas. Tudo o que veem, o que para os outros é simplesmente beleza, ornamento ou capricho, para elas se transforma em algo incrivelmente útil.
Grande é a sua capacidade de ver o bem a ser feito e espalhado, nas maiores proporções possíveis.
Eles nos ensinam, com suas vidas, que existem valores mais preciosos do que aqueles perecíveis, que mudam de mãos ao sabor das questões financeiras.
Convidam-nos, igualmente, a olhar em nossos lares, em nossos armários com atenção e descobrir o que se encontra ali guardado há muito tempo, sem uso, e que, em mãos sábias se transformaria em agasalho, alimento ou abrigo às criaturas necessitadas.
*   *   *
O casal Curie renunciou à riqueza, ao partilhar suas descobertas na íntegra com todos os demais sábios.
Eles poderiam ter se considerado os descobridores do radium e patenteado a sua descoberta. Teriam, assim, assegurado os seus direitos de participação na indústria do radium.
Mas como perceberam que o radium poderia servir para a cura de doentes, acreditaram ser errado retirar vantagens disso.
Com incrível senso de humanidade e doação, cederam todas as suas informações, partilhando a descoberta que hoje beneficia inumeráveis vidas.

Catadora de papel


    A professora Rute Villas Boas, sensibilizada com uma cena comum nos dias de hoje, mas que passa despercebida por muitos de nós, escreveu o seguinte:

        Ela passava todas as noites, altas horas, empurrando um carrinho, cujas rodas rangentes avisavam-me da sua chegada.

        Vinha sempre acompanhada de uma criança que a ajudava a recolher papéis, precioso saldo da coleta dos lixeiros.

        Na penumbra formada pela copa das árvores, eu apenas conseguia vislumbrar-lhes as silhuetas, esquálidas e andrajosas.

        Seus rostos ainda me permanecem anônimos, mas suas vozes parecem ecoar nos meus ouvidos, cada vez que me lembro delas.

        Indiferentes ao sono e às intempéries, caminhavam  mãe e filha  a passos lentos, como que para desfrutarem ao máximo a mútua companhia.

        E conversavam muito. Havia, na fala daquelas criaturas, um misto de compreensão e cumplicidade. E muito carinho.

        A mulher, embora maltrapilha, trajava-se de uma dignidade que só as grandes almas possuem, ensinando à garota os segredos da vida.

        A menina,  supostos oito ou nove anos,  absorvia-lhe as palavras, atenta, argumentando algumas vezes, questionando outras...

        E o diálogo fluía, longo, harmonioso, suave e, de repente, explodia em cristalinas gargalhadas.

        Sinal inequívoco de que se sentiam felizes, pelo simples fato de estarem juntas.

        Há muito tempo, já não passam pela minha rua. Talvez tenham mudado o percurso. Talvez tenham mudado de vida ou de endereço. Talvez... Quem poderá saber?

        Hoje, me surpreendi pensando naquela mulher e na extraordinária lição de vida que ela me deixou: mesmo dentro da mais absoluta miséria, jamais negligenciou o sagrado compromisso da maternidade.

        Mesmo em face das inúmeras adversidades, preferia carregar consigo a filha muito amada, aproveitando todo o tempo para orientar-lhe o caminho.

        E nem o cansaço, nem a fome presumível, nem a incontestável pobreza conseguiam tirar-lhe a paciência e o bom humor, condições indispensáveis à difícil tarefa de educar.

        No árduo momento em que vivemos, o que constatamos, com freqüência, são pais ensandecidos pela ânsia da conquista de “status” social, sem disponibilidade, ausentes, formando, mesmo dentro de lares abastados, filhos desorientados, carentes e tristes.

        Pensando nisso, resolvi prestar uma homenagem especial a essa ignorada mulher, diamante oculto na rocha bruta, mãe sem rosto e sem nome: mãe “catadora de papéis”!
*   *   *
         Importante extrair dessa singela história o ensinamento grandioso que ela contém.

        A lição de que o afeto, a atenção e o carinho não dependem do dinheiro para poder se expressar.

        O amor não necessita de recursos financeiros, posição social ou diplomas para brotar.

        O amor, para se manifestar, precisa, tão-somente, de um coração disposto.

        De um coração que entenda o amor e o deixe nascer e florescer, ainda que em condições difíceis, onde a miséria material habita.

        E onde o amor floresce, onde existe educação, atenção, compreensão e afeto, surge sempre a esperança acenando com as possibilidades de um amanhã mais feliz e risonho.

        Pense nisso!

Carta às mães que perderam seus filhos


Mãezinha querida... Seu coração está em pedaços...
Não há dor maior do que a perda de um filho...
Aprendemos a amá-los de uma forma tão grandiosa, tão completa, que não conseguimos mais enxergar o mundo sem a sua presença ao nosso lado.
Descobrimos um tipo de amor que nos faz crescer e nos faz amar a vida como nunca antes havíamos amado.
E subitamente são levados... Aos poucos meses, nos primeiros anos... Ou um pouco mais tarde. Levados de nosso regaço através da morte tão cruel.
Mãezinha querida... Seu coração pede consolo, pede uma razão para continuar vivendo...
E esta razão estará sempre em seu amor por eles.
Primeiramente pelo amor aos que ficaram e respiram também o ar de seu amar: filhinhos, esposo, pais, amigos queridos.
Mas também pelo amor aos que partiram porque, mãezinha querida, eles continuam a existir e a amá-la como antes o faziam.
A morte não mata o Espírito e também não mata o amor.
"Um pai, uma mãe, nunca deveriam enterrar seus filhos" - diz o pensamento popular, fazendo menção à ordem natural da vida para os que deveriam partir antes.
Porém, a verdade é que você não enterrou seu filhinho, mãe: o que ali foi deixado sob a terra era apenas sua vestimenta corporal para esta breve encarnação.
Seu filho, sua filha continuam existindo. E todo amor que construíram no aconchego de seu lar não foi perdido: será a semente de um novo amanhã, quando voltarão a se encontrar.
Os planos maiores do Universo - ainda desconhecidos por nós - definiram que precisavam ir mais cedo, por razões especiais.
Voltaram para a verdadeira vida, o mundo espiritual, onde estão recebendo todo auxílio necessário para que sejam bem recepcionados em sua nova realidade.
Deus está com seus filhos nos braços, mãezinha. Segura-os através de seus tantos trabalhadores do bem, que estão encarregados de receber as almas após a desencarnação.
Você não perdeu seus filhos, embora a realidade pareça mostrar isso diariamente, pelo buraco que suas ausências na Terra deixaram.
Não... Você não perdeu seus filhos. A desencarnação é apenas o final de uma etapa e começo de outra.
Não perdemos as pessoas, assim como não se perde o amor semeado no coração.
Quando a saudade apertar e o ar parecer faltar, lembre, mãezinha, dos momentos felizes com eles, lembre de abraçá-los com carinho em suas orações aos céus.
Eles receberão seu abraço e ficarão felizes por saber que em sua alma não há revolta, não há ódio ou rancor, há apenas a natural e saudável saudade.
Através da oração você poderá manter um contato constante com eles, pois a prece une os "dois mundos".
Diga que os ama muito, que sente falta, é certo, e que é este amor que lhe sustenta os dias na Terra, esperando o sonhado momento do reencontro.
Mãezinha querida... Você não está sozinha neste momento difícil: Deus está com você. Conte com Ele.